Na semana passada, vimos um presépio montado numa montra da Baixa e desde então, que o André não parava de falar dele. Como cá em casa nos dividimos entre ateus e agnósticos, o presépio, não costuma fazer parte dos nossos enfeites de natal, mas, não acho que isso seja um impedimento para o fazermos, afinal é um símbolo da civilização ocidental. Na altura, lembrei-me que tinha guardado uma série de figuras do presépio do avô do Pedro, e resolvi procurá-las. Depois da caixa encontrada e o conteúdo espalhado no chão, descobrimos que não havia a figura do menino jesus e da nossa senhora, por isso resolvemos ser nós a fazê-las. O André acrescentou a estrela de natal e um Pai Natal e, depois de tudo montado, confesso que gosto de vê-lo ali na varanda.
Enquanto o fazia, lembrei-me do presépio da minha avó e, de como eu e a minha irmã gostávamos daquele ritual nas férias de Natal. A minha avó montava uma mesa no fundo da sala de jantar e por cima, fazia o pinheiro de Natal, que nós ajudámos a montar. Depois, trazia um rolo de papel pardo, papéis e tintas, e começávamos a colori-lo entre conversas e os filmes do Charlot e dos irmãos Marx. Entretanto, o papel era estendido a secar, e a minha avó trazia as figuras (lindas!) e espalhava-as na mesa da sala, mesmo ao lado, do musgo fresquinho que os meus primos tinham trazido do pinhal, um dia antes. Com o papel pardo sarapintado de castanho e verde contruíamos a gruta debaixo do pinheiro e os caminhos para o moinho, o rio, as casas e o poço. Depois começávamos a forrar a mesa com o musgo e, com muito cuidado, a minha avó trazia o vidro e a prata para fazer o rio, pousava a ponte e vinham as figuras; primeiro vinha o menino jesus e a caminha (feita em madeira e palhinha) que nós adorávamos, claro. Quando tudo estava montado, passávamos os dias a observar aquela aldeia pequenina feita de barro que brilhava com as luzes do pinheiro, e a minha avó contava-nos as histórias do presépio e de como tinha comprado aquelas peças ao longo anos.
No fim destas frases, quase que sinto o cheiro do musgo, da canja e do bacalhau na cozinha, das passas, dos frutos secos e do queijo que o meu avô punha na mesa e, encho-me de saudades deles os dois e daqueles dias especiais.
Bom Natal!